último dia de carnaval. pr'aqueles que estão na folia, um dia triste... o último. pra mim que tô devagar, quase parando, agradeço por ter passado de forma levemente indolor. acordei pensando na mortalha que usava nos carnavais de Amargosa, interior da Bahia. onde passei alguns anos da minha vida, brincando nos bloco, saindo atrás do trio elétrico e indo ao clube Alvora a noite. nossa como era lindo. eu, minhas irmãs e primos zoando da manhã à noite pelas ruas de Amargosa. do bosque à praça passando pela rua central. era lindo. lembrei de tia Zulmira e sua mesa farta nas manhãs quando chegávamos da festa. lembrei de tia Rita e tio Mimiro e sua granja. tio Zezinho e a tintura preta retinta junto ao espelhinho colocado no pilar da varanda pra poder retocar cabelo e bigode. tia Vaizinha e os joguinhos de buraco. tio Nelito, o espanhol, tinha uma farmácia e o bigode mais engraçado que já vi na vida. um Dalí baiano, ou quase. Na rua Edmundo Coelho, uma pequena ladeira, tinha o Cine Theatro Pérola, que era de meu tio Zezinho. colado a ele estava a triste e escura casa de meus avós: Rosa e Joaquim, e tia Dete que ficou com eles até o fim. morreu num azilo, louca. Isa, a sobrinha favorita de minha mãe trabalhava na telefônica, onde toda semana íamos falar com a mãe no Rio de Janeiro. cabia a mim a confirmação das mentiras: tomaram banho de ribeirão? perguntava ela. eu dizia : não! confirmando o que as outras duas já tinham dito. suas irmãs estão se comportando por ai? eu respondia : sim. confirmando o que as outras duas já tinham dito. e assim ia... uma sabatina semanal. as primas casadas e seus filhos. Angelízio, um cara muito doido, diria um visionário, casado com célia (acho que sim), irmã de Walter, outro primo. filhos de tio Vavá que tinha pra mim a casa mais bem situada da cidade. morava numa casa alta na frente da praça central, onde todas as sextas a noite se montava a feira livre da cidade. tinha "de um tudo". comida, roupa, bicho, chapéu, trançados de palha, temperos, feijões. frutas, flores... flores. ali, naquela janela, vi muitas vezes o dia nascer reparando a feira e o vendedor de Angélicas. bem na frente da janela da sala de meu tio Vavá tinha um vendedor de Angélicas. flores brancas e lindas... e perfumadas. de um perfume que nem sei dizer mais como era. mas é o cheiro da minha infância. misturado com as frutas da época, os doces de tia Zuca, a Skol em lata, tempos depois, no carnaval. os primeiros BEIJOS. em maiúsculo porque eram beijos mesmo, de horas, de língua, de cansar o freio. rs. Amargosa, cidade jardim. o coreto, o ribeirão a historia do Jequitiba atingido por um raio, que forneceu madeira pra fazer todas as mesas e tamboretes do Jequitibar, barzinho perto da estação de trem... de um trem que já não passava mais por ali. um bar que não era freqüentado por moças de familia, mas se minhas irmãs e primas iam... eu também ía. aliás tava aqui pensando: minha irmã era minha heroína. pensava as fantasias, pintava as mortalhas, era amiga de Flor, o músico, e pegava geral. essa era Cris... minha irmã. em Amargosa também teve os tempos de calmaria (antes dos 12 anos, a precoce), a fazenda de seu Quadros, onde bebia leite direto da vaca... quentinho e espumante. o sítio de Betão, filho de tio Zezinho e irmão de Silene, onde brincava com crianças, ralava os joelhos, as costas passando por baixo das cercas de arame farpado, molhava os pés no córrego, porque a mãe proibia de tomar banho. rs. os passeios de burrico. meu amiguinho e tempos depois namoradinho de carnaval: Henrique. com quem encontrei em 1990 no carnaval de Salvador. do nada. pasme!!! Amargosa era de rodinhas de violão, no bosque, sob o coreto da praça, na frente da igreja, na escada da casa de tio Zezinho, que acabo de me lembrar, tinha um comércio de caixão. Jú, Geraldo, Roberto, Beto, Duda, Gau, Marcelo, Ritinha, Getúlio, Erasmo, Regina, Maria José, Conceição, Valmir, Vladmir, Fada, Kau... Kau, por onde anda Kau? com quem troquei cartas durante alguns 2 ou 3 anos. as vezes tinha mais de uma carta por dia. longas cartas contando da minha vida no Rio. longas cartas lendo sobre sua vida em Salvador.
lembranças boas de uma cidade, do carnaval... de mim. lá em cima perdi o fio da meada pra falar de Angelízio, foi um cara que abriu um açougue de caça. tinha tatu, cobra, paca, gia, carneiro... a idéia era ótima, mas a cidade era pequena. Amargosa cresceu hoje tem um prefeito do PT e ... é meu primo.
désopiler
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